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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Perfil empreendedor no Brasil

O assunto de hoje vem falar mais uma vez sobre o perfil empreendedor, dessa vez no Brasil. O artigo é uma entrevista do site www.empregoerenda.com.br com João B.Sundfeld*. Confira a entrevista e aprenda mais e melhor sobre o assunto.

Emprego e Renda: Qual a avaliação que o senhor faz sobre o perfil do jovem empreendedor brasileiro?
João B. Sundfeld: A atividade empreendedora, a meu ver, não está vinculada à nacionalidade, mas ao perfil psicológico da pessoa que empreende. Esse perfil, em geral, demonstra a capacidade criativa e corajosa para iniciar uma atividade nova ou incrementar a atividade atualmente desenvolvida. Os brasileiros utilizam sua capacidade criativa como mola propulsora do empreendedorismo e isso, nos parece ter muito a ver com a cultura do povo. Neste caso, há características determinadas pela educação, hábitos, costumes e necessidades geradas pela busca da melhoria das condições de vida e até pelo instinto de sobrevivência.

E&R: Como o senhor analisa o perfil das escolas e universidades no sentido de incentivar o empreendedorismo?
J.S.: Há iniciativas particularizadas de escolas de todos os níveis para incentivar os alunos a terem iniciativa empreendedora. Acredito que cursos profissionalizantes possam trazer melhores resultados do que um currículo universitário voltado para empreendedorismo. Além dessas iniciativas no campo educacional, existem programas de governo que estimulam e criam condições para o desenvolvimento de micro-empresários e pequenas empresas, como é o caso das incubadoras, onde há programas cooperativos de divisão de gastos em infra-estrutura empresarial, até que a empresa atinja um estágio em que possa seguir em frente por seus próprios meios.

E&R: Quais devem ser os primeiros passos dados por um empreendedor?
J.S.: Depende do tipo de empresa que a pessoa deseja empreender. Seguramente, sempre será necessário, antes de tudo, estudar com detalhes o mercado em que se deseja atuar. No mundo dos negócios existem competências distintas conforme o ramo escolhido. Essas competências incluem, além da vontade de empreender, habilidades específicas que devem ser cobertas antes de começar a atividade. Por exemplo, um negócio de prestação de serviços, onde há intensa necessidade de lidar com o público exigirá conhecimentos de relações humanas, capacidade de verbalização, negociação e outras especificidades do negócio. Para uma atividade manufatureira, em geral, é necessário o emprego de capital, tanto fixo (imóvel, máquinas, ferramentas, veículos) quanto para o giro dos negócios (financiar vendas, manter estoques e outros). Assim sendo, é preciso registrar, por escrito, os detalhes sobre o negócio e planejar os objetivos e ações a serem realizadas. Nossos governantes precisam acreditar na honestidade das pessoas e liberar os caminhos para o crescimento econômico e, conseqüentemente, do emprego.
Empreendedorismo - criatividade e liderança
E&R: Já li diversas vezes que o empreendedor brasileiro não tem o hábito de planejar. Em que isso prejudica ou atrasa os negócios desse empreendedor?
J.S.: Não me parece correta a generalização de que todo brasileiro não planeja. Em minha atividade como consultor de gestão empresarial e professor, tenho tido inúmeras oportunidades de constatar que grande número de pessoas planeja suas atividades e segue um cronograma para as ações. Entretanto, considerando números recentes obtidos por pesquisa da CNI/IBOPE e divulgados nos meios de comunicação, soubemos que 75% da população representam pessoas incapazes de ler, escrever e interpretar corretamente um texto. Sendo assim, é de se esperar que, mesmo em uma empresa onde haja planejamento detalhado e preparado segundo conceitos modernos, haverá enorme dificuldade para implementação do plano devido à má educação dos funcionários.
Nessas condições, o empreendedor também sofrerá com essa intolerável limitação. Para solucionar esse impasse, minha sugestão é que a empresa invista na educação e treinamento das pessoas.
Estou convencido de que cada real investido na preparação do pessoal retornará sob a forma de boa produtividade, bons produtos e serviços, satisfação dos clientes e, sem dúvida, em lucros maiores.

E&R: Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos empreendedores brasileiros?
J.S.: Excelente pergunta. No Brasil estamos enfrentando uma fase de grandes dificuldades para quem quer empreender um novo negócio ou aumentar seus negócios atuais. Os entraves começam na enorme burocracia em todas as esferas do poder público, quer sejam municipais, estaduais ou federais. Para abrir uma empresa tem-se que vencer muitos obstáculos e o tempo pode chegar a três meses dependendo das greves e outros entraves que surgem pelo caminho. Outra enorme dificuldade é a elevadíssima carga tributária paga pelas empresas e população em geral, sem o devido retorno em bons serviços públicos como estradas, hospitais, educação, transporte e segurança. Temos lido com freqüência que, em análises e classificações internacionais, o país fica sempre em posição comparável a pequenos e pobres países da África e América do Sul. Nossos governantes precisam acreditar na honestidade das pessoas e liberar os caminhos para o crescimento econômico e, conseqüentemente, do emprego. Menores impostos levarão a maior inclusão de empresas e pessoas no processo de desenvolvimento. Para tanto, os desonestos devem ser punidos exemplarmente, evitando-se a conhecida alegação de que com os impostos no nível atual é preciso sonegar para sobreviver.
E&R: Como se tornar um bom e verdadeiro empreendedor?
J.S.: Mesmo com as dificuldades expostas nas questões anteriores, acredito    que as seguintes condições precisarão ser preenchidas por um bom e verdadeiro empreendedor:
a. Assumir postura pró-ativa procurando sempre solucionar os problemas com otimismo e perseverança;
b. Definir e conhecer com profundidade qual é o seu negócio;
c. Planejar todos os passos para conhecer o público-alvo, os concorrentes, as forças que intervém em seu mercado e, dedicar-se ao estudo técnico e administrativo necessário para aplicação no empreendimento;
d. Assumir a liderança de sua equipe lembrando sempre que a motivação dos colaboradores não é objeto de compra e só pode ser conseguida desde que as pessoas recebam apoio e reconhecimento por sua dedicação honesta;
e. Abandonar práticas autoritárias e atitudes arrogantes, lembrando que todos temos um só objetivo: sermos felizes.
Confira a entrevista "O empreendedor brasileiro" na íntegra em http://www.empregoerenda.com.br/editorias/entrevistas/641-o-empreendedorismo-brasileiro
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(*)João B.Sundfeld: é graduado pela Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo como economista e contador. MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em educação pela PUC/SP. Foi diretor de empresas industriais, comerciais e de serviços. Atualmente é coach, consultor de empresas, palestrante e professor em cursos abertos ou "in company" em todo o Brasil. É sócio da Sundfeld & Associados - Gestão Empresarial.

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